Com o sonho de trabalhar no cinema e nas séries americanas, Filipe Carvalho designer, realizador e vencedor de um Emmy é português e está atualmente a trabalhar no sonho dele.
Filipe Carvalho designer vencedor de um Emmy
O meu terceiro convidado neste espaço é o português Filipe Carvalho, um português com um pé em Lisboa e outro em Hollywood. O melhor é leres a entrevista para ficares a conhecer mais sobre o Filipe.
Tu começaste como webdesigner, o que te levou a mudar de área?
Quando percebi que o web design se estava a tornar completamente utilitário. A dada altura já não interessava tanto o design e o look dos sites mas sim a rapidez e facilidade de acesso. E depois deixaram mesmo de ser importantes quando apareceram as redes sociais. Foi quando percebi que tinha de mudar.
Como é que é dado este passo de Portugal para Hollywood?
Sempre tive o sonho de trabalhar no cinema e nas series americanas. Cresci a ver o Knight Rider e o Macgyver e essas maravilhas todas – eram as nossas tardes de diversão, para a minha geração. Foi assim aliás que comecei a aprender inglês.
Por volta de 2009 comecei a fazer portefólio de motion e passado pouco tempo decidi tentar. E consegui.
Mas atenção que não entrei em Hollywood. Isso só veio bastante mais tarde, com o The Architect.
(Filipe Carvalho – Reel 2022)
Tu tens um estilo muito cinemático, muito característico, concordas com esta minha afirmação?
Sim, acho que é bastante visivel. São as minha influencias, e é o que gosto de fazer. Isso ajudou-me muito a ser reconhecido nos EUA, por ter um estilo muito particular.
Ver também: Tom O’neill designer que criou o genêrico de Narcos
Tu estás em Portugal, e trabalhas muito com os Estados Unidos, como é feito esse trabalho e como lidas com a diferença de horários?
Emails, emails, emails. É a base do meu trabalho. E skype calls. Com a diferença horária de 8 ou 6 horas (dependendo da zona dos EUA), trabalho quase sempre quando eles estão a dormir. Para isso têm de confiar que no dia a seguir têm qualquer coisa para ver no email. E desde que nao falhes, eles confiam em ti. E tem sido sempre assim.
Tu trabalhas só com o design dos styleframes, ou também trabalhas com todo o processo desde a ideia à animação?
Na maioria dos casos faço concept design e styleframes. Concept design é um bocadinho mais envolvente, porque crio um conceito para o projecto e desenvolvo-o. Um pouco como um realizador faz “treatments”.
Styleboards muitas vezes passa por apenas desenvolver visualmente uma ideia que alguém já criou. Mas nalguns casos pontuais executo o projecto todo enquanto director criativo, trabalhando com equipas.
Podes nos contar um pouco o teu processo criativo?
Faço muita pesquisa. Antes de fazer seja o que for pesquiso tudo o que puder sobre o tema. Algumas pessoas desenham sketches, outros vão dar longos passeios – eu pesquiso. Quanto mais informado estiver, quantas mais referencias tiver, melhor.
Depois cruza-se essa informação toda, digere-se, e surgem sempre ideias. Mais do que uma.
E quando se tem uma ideia, o resto é mais facil.
É essa a minha receita!
Qual é o software ou equipamento necessário para to poderes trabalhar?
Só preciso do Photoshop e email. Para filmar gosto da Sony F5 (ou Alexa) e as minhas lentes favoritas são a 24mm e 50mm, de preferencia Zeiss.
Não podiamos fazer esta entrevista sem falarmos do teu genérico “The Architect”, fala-nos como é que nasceu a ideia de fazer algo pessoal e com um estilo tão cinemático.
Queria fazer uma title sequence de principio ao fim, sozinho. Sabia que se fizesses algo que fosse a minha cara, e me dedicasse, podia ser a minha porta de entrada em Los Angeles. E foi.
O Angus Wall, editor do Fincher, gostou e comecei a trabalhar com a Elastic (isto ja foi à uns anos) e com a Blur.
Mas acima de tudo, ainda é o trabalho que melhor me representa enquando designer e realizador.
De todos os trabalhos que estiveste envolvido, qual é o teu favorito?
Tenho um soft spot pelo The Architect claro. Mas acho que o meu melhor trabalho foi feito à pouco tempo para a Imaginary Forces, mas não o posso mostrar para já (deverá sair no final do ano). Esse deu-me muito gozo e é muito a minha cena.
Sentes que em Portugal estamos a evoluir nesta área? OU ainda há muito caminho a percorrer?
Estamos claramente a evoluir. Temos bom trabalho, mesmo a nível de TV nacional. Mas somos poucos e por isso demora mais um bocado.
Continuo a dizer para não se focarem só no nosso mercado – podemos trabalhar à escala mundial, basta querer.
Que conselho podes dar aos designers que se estão a iniciar na sua carreira?
Já respondi a esta pergunta muita vez, e hoje vou falar de uma coisa que me chateia – porque é que a malta não tem portefólio online? Ou Reel?
Se não tens nada para mostrar, ninguém sabe que existes.
Já perdi a conta as vezes que alguém me pede ajuda ou um conselho e quando pergunto para ver o trabalho deles não têm nada para mostrar.
Antes de qualquer outra coisa, mostrem o trabalho. As conversas começam sempre assim!
Esta foi a entrevista com Filipe Carvalho designer português a trabalhar de Portugal para Hollywood.