Foi numa bela tarde de outubro que me sentei com a realizadora Sally Aitken para falarmos do seu mais recente documentário “David Stratton: A Cinematic Life”. Na noite anterior fiquei até às duas da manhã a ver o documentário não só como preparação para a entrevista mas também porque o tema do documentário me interessou bastante: Alguém que se deixou apaixonar pelo Cinema e decidiu fazer dessa paixão uma carreira.
É a primeira vez que vem a Londres?
Eu já vivi em Londres mas esta é a primeira vez que venho ao London Film Festival. É muito emocionante e a organização está a cuidar muito bem de nós.
O que a levou a escolher documentário como forma de se expressar?
Isso é uma pergunta muito interessante! Eu acho que é porque a vida real é estranha e absurda e este filme, em particular, é sobre a absurdidade. É sobre alguém que tem uma obsessão pelo cinema desde os três anos de idade. Fazer um documentário dá-te a possibilidade de entrar em mundos e conhecer pessoas que até podes nem gostar ou simpatizar mas que te fascinam. Historias são historias.
O que a fez escolher esta historia? Este filme é sobre uma historia de amor entre uma pessoa e uma forma de arte. O que a puxou?
Esta historia tem uma genesis muito interessante! Basicamente o David (personagem central do documentário) é uma figura muito respeitada na industria do cinema Australiano e teve um programa de TV durante trinta anos e quando se reformou em 2014 a ABC estava interessada em faze um projecto de maneira a o trazer de volta á TV. Este filme, entre outros, fazem parte de todo um projecto dedicado a ele.
Um dos temas sonantes neste documentário é o tema sobre identidade. Apesar de David Stratton não ter nascido na Australia ele apaixonou-se por este país e pela sua arte.
Interessante, porque a questão sobre identidade não é apresentada no filme porém para o David o cinema foi uma forma de descobrir a sua identidade australiana, de pertencer á Australia. O cinema é uma forma de nos ajudar a descobrir uma identidade. Eles são um espelho e é interessante ver a relação entre o espectador e a arte.
Eu lembro-me perfeitamente da minha primeira experiência com o cinema australiano. Era adolescente e a minha professora de Latim levou-me a mim e outras colegas a vermos o Romeu+Julieta do Baz Luhrmann.
É um filme fantástico não é? Aquela cena do aquário! É sem duvida o meu filme favorito dele!
A Sally tem uma energia contagiante e ficamos por volta de cinco minutos a falar do quanto amamos o Romeu+Julieta e de pormenores do filme, a sua banda sonora e a escolha dos actores. Quando demos conta que ja estávamos á bastante tempo num só tema voltamos á conversa sobre o seu documentário.
Este filme apresentou-me a toda uma nova vaga de cinema que eu desconhecia e até fiz uma lista de filmes para ver.
O David iria ficar muito feliz por ouvir isso! A sua ambição era fazer com que as pessoas vissem mais cinema.
Existe este preconceito de que documentários são chatos e aborrecidos de se ver.
Eu sei! Mas está nas mãos do ritmo e da edição. Eu tive um editor fantástico e tivemos uma experiência tão divertida! Tínhamos todos estes filmes e olhamos um para o outro e pensamos “Por onde começamos?”
O que podemos esperar do futuro?
Neste momento estou a trabalhar com o actor Sam Neill numa serie sobre o James Cook mas eu vou sempre querer fazer documentários e explorar a minha linguagem visual. E escrever historias! Sempre historias! Mas enfrentar uma pagina em branco pode ser aterrorizante. Por isso trabalhar com documentários é mais natural para mim porque tens algo com que começar, é so preciso moldar o que já existe.
Se alguém fizesse um filme sobre a tua vida, quem escolherias para realizar e porquê?
Pergunta interessante! Eu acabei de ver o Trainspotting 2 por isso vou dizer o Danny Boyle (risos) E agora que penso nisso e no facto de termos estado a fala do Baz Luhrmann, eu acho que ambos são realizadores imensamente exuberantes. E eu acho que sou muito energética e dou energia ás pessoas! Olha para mim, sempre a usar as minhas mãos! (risos) Gostava de saber o que ele faria com a minha vida: faço filmes e sou mãe de três crianças!
Foi um prazer enorme conversar com a Sally, entre questões relacionadas com o este ultimo filme dela até mais de dez minutos a conversar sobre actores e trivia de cinema. Espero que um dia ela regresse a Londres para voltarmos a ter uma conversa. Até lá deixo-vos um pouco do seu trabalho mais recente que entretanto já saiu: