The Crown, a jóia da coroa da Netflix, apresentou nesta quarta temporada dois grandes trunfos:
A Princesa Diana e a Primeira-Ministra Margaret Thatcher.
Quando pensávamos que The Crown tinha atingido o seu máximo no ano passado, a quarta temporada veio para provar que ainda há muitas histórias da família real para descortinar… E para nos entreter.
Peter Morgan continua a mostrar os highlights da família real britânica com uma qualidade impressionante. Do design de produção à banda sonora, passando pelo guarda-roupa e cinematografia, esta série continua a surpreender. Há um cuidado tão grande com cada elemento que, a continuar assim, vão (continuar a) chover prémios.
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Os grandes trunfos da nova temporada foram sem dúvida a Dama de Ferro Margaret Thatcher; e o relacionamento de Charles com Diana. No entanto, houveram outros momentos que merecem sem dúvida destaque como a falha de segurança no Palácio; a depressão da Princesa Margaret; e os duelos Rainha vs. Thatcher.
Mais uma vez, Olivia Colman é a soberana desta série. O papel de Rainha Elizabeth assenta-lhe que nem uma luva. Colman continua a mostrar uma Elizabeth confortável no seu papel de Rainha, mas agora nesta temporada teve um novo desafio: rever o seu papel de mãe. Foi possível ver Elizabeth de uma maneira mais humana, não tanto a Rainha mas sim mais mãe e esposa. Não podemos não julgar a maneira como ela tratou Charles e Diana enquanto o casamento destes colapsava.
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Todos nós adoramos um bom drama. E ainda mais quando é basedo em factos da família real, algo que faz correr muita tinta na imprensa. A introdução de Diana Spencer foi um grande momento para esta “pequena” série. Emma Corrin foi uma excelente escolha! A actriz conseguiu captar a timidez de Diana e a sua jornada de jovem ingénua atirada para um casamento infeliz. Não deixa de ser impressionante o que a actriz fez com esta personagem, pois dar vida a uma das mulheres mais amadas da História não foi tarefa fácil. Corrin é, sem dúvida, a revelação.
Não conseguimos sentir mais nada por Diana sem ser pena. Diana mostra uma grande devoção por Charles e luta para que o seu casamento se mantenha de pé, mas algumas atitudes são muito infantis, dando aqui mais ênfase na enorme diferença de idades entre ambos. O que realmente choca nesta temporada é a bulimia. A série decidiu mostrar esta dor privada de Diana logo no terceiro episódio. Mais uma vez, Corrin revelou-se à altura do papel, deixando à vista esta fragilidade tão grande de Diana.
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Josh O’Connor voltou para interpretar Charles e finalmente teve o seu momento de antena. Este Charles mais maduro, tornou-se profundamente triste e desapontado com tudo e todos. Esta personagem fechada, com a voz hesitante e de olhar desesperado, é completamente obcecado por Camila Parker Bowles (Emerald Fennell). The Crown mostra muito claramente este triângulo amoroso, mas apenas de uma perspectiva. A série decidiu mostrar Charles constatemente desagradável com Diana, muitas vezes gritando com a esposa, algo que tem vindo a gerar muitas notícias.
Outra grande supresa qui foi Gillian Anderson como Margaret Thatcher. O trabalho da equipa de produção foi impressionante! Cabelo, maquilhagem, guarda-roupa, estava tudo lá. A actriz desapareceu para este papel, seja na forma como fala, como se senta e até o pescoço virado estava presente. Uma grande perfomance! Cada vez que tinhamos Thatcher e Elizabeth em cena, estavamos a assistir a um duelo de titãs, uma pelo Governo, outra pela Coroa. Vemos Thatcher a ultrapassar vários desafios como ser a única mulher no Governo e gerir o caos do seu país com uma Rainha como Elizabeth. A ansiedade e a frustação desta personagem são palpáveis.
Juntas, Diana e Thatcher deram a The Crown uma energia uma nova direcção que ainda não tinhamos visto. Não que as outras personagens não sejam igualmente boas, mas estas roubaram o show. Tobias Menzies é novamente o Duque de Edinburgo, que faz o excelente par com Colman; Erin Doherty é a Princesa Anne, frontal e muito segura de si, mas não consegue esconder o seu casamento a desabar; e Fennell como Camila teve mais destaque. Fennell soube aproveitar bem os seus momentos, especialmente o seu almoço com Diana, onde destrói toda a sua auto-estima.
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Todavia, a menção honrosa vai para Helena Bonham Carter e a sua princesa Margaret. Desde cedo a opôr-se ao casamento de Charles e Diana, parece que esta é a única monarca que se importa com os casamentos reais. Foi de partir o coração ver a cena onde Elizabeth lhe diz que não é mais parte do “centro”. Margaret deixa-se ir numa espiral de depressão até consultar uma psiquiatra e descobrir o segredo horroroso da família. A forma como a familia real tratou os seus próprios membros com doenças mentais é revoltante.
The Crown volta com uma temporada mais condenatória da família real, sem medo de mostrar os seus maus e péssimos momentos. Esta série é paragem obrigatória para todos os que gostam de um drama e a Netflix continua a elevar a fasquia a cada ano. Thatcher e Diana dominaram esta temporada mas esperamos ver mais desta Elizabeth moderna na próxima.
The Crown estreou a sua quarta temporada no passado dia 15 de novembro na Netflix.