“The Little Drummer Girl”, uma obra consistente, com um excelente argumento, que vale a pena sobretudo pelas magnânimas interpretações.
A mini-série da AMC é uma adaptação da obra com o mesmo nome escrita por John le Carré, em 1983. “The Little Drummer Girl” é uma história de amor, ódio, e, fundamentalmente, espionagem. Ambientada no final da década de 1970, a série acompanha a personagem de Florence Pugh (“Lady Macbeth”) Charlie, uma atriz britânica, que é contratada por uma equipa de espiões para se infiltrar junto dos terroristas palestinianos, de forma a conseguirem encontrar e, por conseguinte, capturar, o homem que estará por trás dos ataques terroristas.
Em plena Guerra Fria, a trama não se fica por aqui. À história de espionagem acrescem ainda as pequenas histórias que ajudam a complementar a série. Charlie vive uma relação muito particular com Gadi Becker, um espião israelita, interpretado pelo sueco Alexander Skarsgård (“Melancolia”). Uma relação de constante questionamento para a atriz, que vive num suplício permanente ao tentar avançar com a relação com o misterioso espião.
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Extremamente visual, “The Little Drummer Girl” é uma das obras do ano no que toca à conjugação de cores, ora não fosse Chan-wook Park, autor de “Oldboy – Velho Amigo” e “A Criada”, o homem por trás da realização dos seis episódios, um realizador fora de série. Não sendo uma obra com uma realização esplêndida como Park nos tem habituado, revelou-se inovadora em vários sentidos. A conjugação de cores e alguns dos planos exibidos foram os pontos altos da realização do sul-coreano.
Uma vénia ao argumento e às interpretações.
Um dos pontos mais altos da mini-série da AMC diz respeito ao argumento. Baseado no livro de John le Carré, o argumento foi adaptado por Michael Lesslie (“Assassin’s Creed”) e Claire Wilson (“Partners in Crime”). Este funciona muito bem como suporte para a série. É, juntamente com os desempenhos dos atores, o que verdadeiramente a sustenta. Sem grandes lacunas, o guião é muito bem redigido.
A isto junta-se o melhor da série: as interpretações. Com maior tempo de antena temos Florence Pugh e Alexander Skarsgård, uma dupla com muita cumplicidade. Depois surgem, com papéis mais secundários, mas muito importantes para o desenrolar da história, Michael Moshonov, Katharina Schüttler, Alessandro Piavani, Lubna Azabal, Amir Khoury, Iben Akerlie, Simona Brown e Clare Holman, entre outros. São muitos, mas vale a pena menciona-los a todos. Muito seguros, credíveis, os desempenhos dos atores são quase que imaculados.
Porém, falta o nome maior do elenco: Michael Shannon. O ator de 44 anos enche a tela e rouba as cenas em que aparece. Shannon é brilhante. Sem grande espalhafato, pois também não é o perfil da personagem, o desempenho de Martin Kurtz, de expressão fechada e sorriso irónico, está ao nível de outras interpretações do ator como as de Richard Kuklinski em “Um Homem de Família” (2012), Bobby Andes em “Animais Noturnos” (2016) ou Richard Strickland em “A Forma da Água” (2017).
Em suma, a série vale muito a pena pela história e pelas personagens e os respetivos desempenhos dos atores. Se se for à procura de uma obra muito completa, onde a fotografia, a banda sonora, a montagem e as restantes partes técnicas se transcendem e se encontram em perfeita comunhão com a realização, o argumento e as interpretações dos atores, isso não se vai encontrar.
“The Little Drummer Girl” é sim uma obra onde se destacam o excelente argumento e as esplêndidas interpretações, onde a realização, apesar de não ser monstruosa revela-se algo inovadora e que serve para confirmar o talento do realizador sul-coreano.