Do realizador Sam Mendes, “1917” é um dos grandes filmes desta temporada, nomeado a 10 Oscars.
Não tenho nenhum género de cinema que não goste. Sim, uma comédia romântica aqui e ali não faz mal a ninguém! Contudo, confesso que o género que menos me atrai é o dos filmes de guerra. Apesar de serem extremamente relevantes e um reflexo da nossa história, o cenário das Duas Grandes Guerras nunca foi algo que me puxasse de imediato para uma sala de cinema, ainda que tenha adorado filmes como a Lista de Schindler, Apocalipse Now e o próprio Hacksaw Ridge.
Desta forma, entrei na sala de cinema para ver “1917” com uma expectativa controlada. Extremamente curioso para perceber como iriam criar a ilusão de um filme gravado num grande e longo take. O meu maior receio era que o espétaculo e a técnica usadas para transportar o espectador para um cenário de batalha, ocultassem o desenvolvimento de personagens. Um exemplo disso é o filme Dunkirk, realizado por Christopher Nolan. Um projeto de técnica e esplendor inegável mas cujas personagens são postas em segundo plano para dar lugar à grandiosidade das cenas de batalha.
Fico muito feliz em descobrir que “1917” é mais do que um espetáculo técnico. Sam Mendes entregou uma jornada emocional, assustadora, arrepiante e arrebatadora.
O filme passado durante a Primeira Grande Guerra acompanha os soldados Blake e Schofield. Estes são encarregues de uma missão perigosa na qual terão de atravessar a linha inimiga para entregar uma mensagem que irá impedir centenas de mortes.
Sam Mendes, realizador de American Beauty e Skyfall, entrega mais um filme de peso. “1917” é baseado numa história verídica, focada na missão de dois soldados. Sendo assim, temos um filme de guerra diferente. Não há uma grande batalha, contudo, o filme demonstra diversos momentos de incrível tensão e ação que funcionam de forma execional. Isto deve-se muito ao uso do long take durante todo o filme, o que permite a Mendes desenvolver a relação de ambos os companheiros de guerra em tempo real.
É impossível falar desta técnica sem mencionar o grande cinematógrafo Roger Deakins. Provavelmente um dos diretores de fotografia mais consagrados de todos os tempos. Vencedor do Óscar de Melhor Cinematografia pelo filme Blade Runner 2049, Deakins entrega outro espectáculo visual. A câmara passeia pelos cenários com imensa fluidez. As soluções visuais do filme para esconder os cortes e criar a ilusão de um take longo, funcionam perfeitamente.
Mas não só o movimento de câmara como também o jogo de luzes é execional. O uso de silhuetas e vasto recurso à sombra, criam um senso de terror que injeta o filme de adrenalina do início ao fim.
Todos os atores tinham um grande papel neste filme, afinal de contas um longo take requer muita preparação e um nível exato de precisão para que a cena não vá por água abaixo. É de facto um filme com alto valor de produção e há que reconhecer o trabalho de todos os atores desde os protagonistas aos extras. Contudo, quero ressaltar os protagonistas Dean Charles-Chapman e George Mackay. Ambos carregam o centro emocional do filme, que está na amizade entre ambos.
Na banda sonora Thomas Newman entrega aquele que talvez seja o melhor trabalho dele. A música acompanha o filme de forma vivida, ao entregar energia aos momentos mais intensos. Contudo, o compositor também sabe escolher o momento certo para entregar um tom mais subtil que eleva o desenvolvimento emocional da história.
“1917” é emocionante e tecnicamente perfeito, tornando-se assim num dos meus filmes de guerra preferidos! E não tenho dúvidas que o filme irá fazer furor nos Oscars, e quem sabe talvez levar o grande prémio.