“The Rental: O Segredo do Refúgio” foi a escolha do MOTELX para sessão de encerramento e chega a 17 de Setembro aos cinemas.
Este é o filme de estreia de Dave Franco na realização, protagonizado pela sua mulher, a também atriz Alison Brie.
O realizador de “The Rental”, Dave Franco, irmão de James Franco (The Disaster Artist), é conhecido pelos seus trabalhos como ator que normalmente andam em torno do género da comédia ou aventura.
Desde filmes como “Now You See Me” a “Neighbours”, o ator vinha a demonstrar algum carisma, ainda que pessoalmente não ache que chegasse aos pés do irmão mas sempre achei que fez um bom trabalho.
Vê-lo a estrear-se no papel de realizador foi algo que me deixou imensamente curioso, isto porque por norma quando um ator faz esta transição costumam resultar em excelentes projetos visto que os atores que estiveram à frente da câmara, têm um entendimento pessoal sobre como comunicar devidamente com um ator para extrair a sua melhor performance.
São vários os casos desde Clint Eastwood a Ben Affleck, ambos com filmes excelentes. Contudo, no que toca a Dave Franco o seu primeiro filme como realizador é certamente interessante ainda que deixe bastante a desejar.
Ver também: MOTELX 2020 | Saint Maud – Um misto de religião e loucura
“The Rental” é então o primeiro passo do jovem ator agora realizador que embarca num projeto que se designa como um filme de terror no qual dois casais amigos decidem ir passar um fim de semana a um Airbnb.
Porém, há medida que a história decorre não só as personagens começam a desvendar factos estranhos sobre o local onde estão como também começam a suspeitar de certos segredos dentro do grupo de amigos. Este é um projeto independente com um conceito bastante simples mas que não deixa de ser interessante.
Apesar do conceito de um filme de terror num hotel já ter sido explorado nos anos 60 com o clássico “Psycho” de Hitchcock (clara inspiração deste filme), “The Rental” inova ao trazer esta abordagem para uma época moderna na qual os hóspedes, desta vez num Airbnb contam com um anfitrião que acaba por ser um tanto mais presente, muitas vezes de forma constrangedora.
Uma das personagens do filme chega a dizer: “Não acham estranho que ele possa vir e desaparecer quando lhe apetece?”. Esta pergunta deixou-me a pensar, tendo já usado um Airbnb mais que uma vez, não me posso nunca queixar dos anfitriões com quem partilhei casa, sempre foram bastante simpáticos, porém a verdade é que podem existir pessoas que acabem por se aproveitar deste negócio para aterrorizarem os seus clientes e cometerem crimes horrendos. Isto é algo que se revela bastante atual e uma questão a debater que o filme introduz bastante bem no seu primeiro ato.
Também o elenco está muito bem no filme. A amizade entre os dois casais é muito bem entrosada, o diálogo é fluido e os atores são carismáticos, em especial Alison Brie (Community) e Jeremy Allen White (Shameless).
Ver também: “A Vida Extraordinária David Copperfield” – Dickens como nunca viram antes!
Como disse, gosto desta introdução. O cenário é incrível numa casa remota à beira mar e moderna, que se torna propícia à ótima cinematografia do filme cujo jogo de luzes e fumo cria um suspense visual bastante interessante.
A primeira interação com o anfitrião, apesar de um tanto apressada também é constrangedora o suficiente para gerar alguma desconfiança. Além disso, o anfitrião também demonstra um certo racismo, de forma subtil, mas que o público entende e atribui à personagem um certo vilanismo e tensão eminente. Mais uma vez reitero, esta introdução tem um excelente potencial.
As peças estão lá todas, o elenco, a cinematografia e o conceito estava tudo em jogo para um excelente filme de terror. Porém, entristece-me ver algo com bastante potencial a ser desperdiçado desta forma. Infelizmente o segundo ato põe de parte tudo o que o filme tinha de mais interessante para nos apresentar um drama entre os casais com pouca vida.
Não que os atores percam presença, pelo contrário, eles são uma das maiores razões que me fizeram querer continuar a ver o filme, mas o argumento pouco faz para desenvolver as personagens e o senso de perigo eminente tão bem estabelecido no primeiro ato é perdido e trocado por uma telenovela de romances clichê e traições mesquinhas que pouco ou nada importam à resolução do filme.
O tal subtexto de racismo introduzido no primeiro ato é deixado completamente de parte e fica muito à toa num contexto geral. Esse é um de múltiplos exemplos pelos quais “The Rental” se perde num todo.
O terceiro ato tenta voltar à proposta inicial e entrega-nos um climax do género de um filme “Slasher” no qual começam a morrer personagens a torto e a direito. O grande problema deste final é precisamente o facto de que quando chegamos a esse ponto o filme já pouca ou nenhuma tensão tinha e dessa forma nenhuma das mortes tem impacto.
Não só isso mas também a falta de gore e sangue num filme R-Rated (maiores de 18) também removeu parte do impacto da cena. Mas vistas as coisas, a montagem é muito boa, existe uma morte em especial que joga com o silêncio e um corte seco que achei excecional e como um todo a sequência é divertida.
Ver também: MOTELX 2020 | Amulet – O feminismo como arma de justiça
Fico um tanto desiludido com esta produção cujas excelentes ideias e boa introdução prometiam um filme muito melhor. Eu acredito que apesar de tudo Dave Franco revela-se promissor como realizador. Claramente ele consegue extrair ótimas performances e montar cenas interessantes, mas falta saber jogar bem com os géneros.
Num filme de terror, como é o caso desta sua estreia, a tensão morre a dez minutos de filme. Talvez no final das contas fosse um drama o que ele queria contar, mas acredito que o conceito atual é uma ideia muito interessante que se resulta muito mais para um filme de terror. Esperar para ver o que o realizador nos trará, aqui ficam os votos para que tenha uma excelente carreira no cargo, contudo a sua primeira produção ainda deixa bastante a desejar.
“The Rental: O Segredo do Refúgio” encontra-se em exibição nos cinemas portugueses.