O filme galego de maior sucesso crítico e comercial – “O Que Arde” – chega-nos agora às salas de cinema portuguesas, onde vem dar a sua perspectiva sobre desflorestação e extermínio rural.
Depois de arrecadar o Prémio do Júri no Festival de Cannes em 2019, “O Que Arde” chega aos cinemas em Lisboa, Porto e Coimbra com o destaque que um filme com tamanho reconhecimento crítico deve ter.
Passado por entre as montanhas frias da Galícia, “O Que Arde” segue a história de Amador, um pirómano ex-condenado por fogo posto que regressa à sua aldeia para viver com a mãe e tentar obter algum sentido de normalidade na sua vida.
Neste seu terceiro projecto como realizador, Oliver Laxe oferece um filme calmo, num ritmo lento como a vida pacata da aldeia onde o nosso protagonista reside. Com poucas palavras e atenção dada à imagem, somos instantaneamente transportados por caminhos de gravilha e declives vertiginosos. Com a ajuda de uma fotografia invejável, Laxe produz imagens arrebatadoras e dignas de servirem como cartão de visita àquela zona de Espanha.
E muito deste encanto advém da naturalidade daquilo que nos é apresentado. Seja a forma como filmou o cenário, seja pela utilização de actores não profissionais (muitos deles sendo este o primeiro projecto em que trabalham), tudo tem uma camada de realismo evidente logo desde o início.
Grande parte deste realismo reside no facto de, nos estágios iniciais deste projecto, Laxe tinha a ideia de fazer um documentário focado nos fogos florestais e a desruralização das localidades campestres de Espanha. Assim, quase ao estilo de guerrilha, a equipa de “O Que Arde” decidiu filmar tudo com uma emergência palpável, chegando a estar demasiado perto das chamas e ter de parar as filmagens para ajudar os bombeiros que faziam o seu trabalho em exterminar o fogo presente no filme.
Mas considero que seja no facto de “O Que Arde” ter sido, no início, planeado como um documentário, que está a sua maior fraqueza.
O enredo é quase não existente. Momentos acontecem com estas personagens, mas não existe qualquer sentido de história nem nenhuma arco para qualquer das situações ou pessoas envolventes. Com uma duração fugaz de 1:26 horas, “O Que Arde” perde-se em admirar a paisagem e a mostrar a vida pacata destas pessoas em vez de nos contar uma história digna de se contar.
Um enredo profundamente intrigante poderia nem ser o mais necessário se as mensagens que Laxe quisesse transmitir fossem bastante proeminentes ao longo do filme. Contudo, isto também não acontece, com a temática de desflorestação e desruralização a serem mencionados, mas nunca explorados com vigor nem perspicácia.
O que nos resta é um filme aparentemente sem rumo, num entrecruzar entre ficção e realidade, nunca chegando a empenhar-se totalmente em nenhuma das alternativas.
Para lá da sua fotografia gratificante, “O Que Arde” vive num limbo pachorrento, nunca chegando a impressionar com aquilo que deseja dizer. Apesar de toda a sua naturalidade, o enredo é tão forçado e pouco desenvolvido que nos vimos confrontados com um filme curto que mal consegue justificar a sua duração.
“O Que Arde” estreia nos cinemas a 16 de Julho.